As doenças negligenciadas afetam quase que exclusivamente as pessoas pobres e impotentes que vivem nas áreas rurais de países de baixa renda. Para a negligência é o “assim chamado intervalo 10/90, que se refere ao fenômeno pelo qual apenas 10% dos recursos de pesquisa em saúde estão concentrados em 90% do conjunto de doenças globais”.
Doenças que ocorrem principalmente entre as comunidades pobres que vivem em países em desenvolvimento atraem particularmente pouca pesquisa e desenvolvimento. O mecanismo do mercado, que determina a pesquisa e o desenvolvimento, deixa de atender às chamadas “doenças negligenciadas” já que elas não prometem bom retorno sobre os investimentos.
Grande parte da pesquisa e do desenvolvimento concentra-se em medicamentos que tratam condições crônicas contínuas, como doenças de coração ou colesterol alto (como o uso de estatinas no controle dos níveis de gordura do sangue, atuando no bloqueio enzimático durante a tranformação de HMG-CoA em mevalonato, na síntese de colesterol), em detrimento de curas e vacinas que não têm o mesmo potencial contínuo de mercado.
Dentre os inúmeros exemplos de doenças negligenciadas, nest post será tratado sobre três doenças que pertencem ao quadro epidemiológico brasileiro, e igualmente ao piauiense:
Doença de Chagas ou Tripanossomíase Americana: doença tropical parasitária causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi e transmitida principalmente por insetos da subfamília Triatominae (barbeiro, presente na cana-de-açúcar, por exemplo) além da contaminação por transfusão de sangue ou transplante de órgãos.
Dentre os sintomas, destacam-se a febre, dor de cabeça, inchaço no local da mordida e alargamento dos ventrículos do coração. A forma crônica é diagnosticada pela presença de anticorpos no sangue para T. cruzi no sangue.
Apesar do avanço significativo no controle da infecção vetorial e por transfusão de sangue, ainda hoje existem cerca de oito milhões de pessoas infectadas. Desses, cerca de dois milhões já se encontram na fase crônica. Estima-se que apenas 0,5% destes recebam tratamento. O número de mortes é hoje de cerca de quatorze mil por ano.
Apesar do avanço significativo no controle da infecção vetorial e por transfusão de sangue, ainda hoje existem cerca de oito milhões de pessoas infectadas. Desses, cerca de dois milhões já se encontram na fase crônica. Estima-se que apenas 0,5% destes recebam tratamento. O número de mortes é hoje de cerca de quatorze mil por ano.
Ainda constitui a doença parasitária responsável pelo maior número de mortes na América Latina, superando a malária. Há uma grande produção científica sobre a doença, mas investimentos ainda insuficientes.
Leishmanioses: apresentam-se de duas formas, visceral ou tegumentar, conhecidas como calazar e úlcera de Baurú, respectivamente.
Destaque especial será dado ao calazar. É uma zoonose comum ao cão e ao homem. É transmitida ao homem pela picada de mosquitos flebotomíneos, que compreendem o gênero Lutzomyia (chamados de "mosquito palha" ou birigui, espécie brasileira) e Phlebotomus.
* Gráfico referente ao número de artigos produzidos sobre Doença de Chagas.
Destaque especial será dado ao calazar. É uma zoonose comum ao cão e ao homem. É transmitida ao homem pela picada de mosquitos flebotomíneos, que compreendem o gênero Lutzomyia (chamados de "mosquito palha" ou birigui, espécie brasileira) e Phlebotomus.
No Brasil existem atualmente 7 espécies de Leishmania responsáveis pela doença humana, e mais de 200 espécies de flebotomíneos implicados em sua transmissão. Trata-se de uma doença que acompanha o homem desde tempos remotos e que tem apresentado, nos últimos 20 anos, um aumento do número de casos e ampliação de sua ocorrência geográfica, sendo encontrada atualmente em todos os Estados brasileiros, sob diferentes perfis epidemiológicos.
Existe uma vacina para os cães no mercado, já regulamentada pela ANVISA, desde 2003. No entanto, há ainda muitas lacunas, havendo concentração de estudos em aspectos da patologia e da imunorregulação, em detrimento de um conhecimento maior acerca dos vetores, localização especial e a busca de uma vacina eficaz para o homem.
Dengue: é uma doença tropical infecciosa causada pelo vírus da dengue, um arbovírus da família Flaviviridae, gênero Flavirírus e que inclui quatro tipos imunológicos: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. Os sintomas incluem febre, dor de cabeça, dores musculares e articulares e uma erupção cutânea característica que é semelhante à causada pelo sarampo. Em uma pequena proporção de casos, a doença pode evoluir para a dengue hemorrágica com risco de vida, resultando em sangramento, baixos níveis de plaquetas sanguíneas, extravasamento de plasma no sangue ou até diminuição da pressão arterial a níveis baixíssimos.
O número de casos da doença tem aumentado dramaticamente desde os anos 1960, com cerca de 50 a 390 milhões de pessoas infectadas todos os anos. As primeiras descrições da doença datam de 1779, sendo que sua causa viral e seu modo de transmissão foram descobertos no início do século XX. A dengue tornou-se um problema global desde a Segunda Guerra Mundial e é endêmica em mais de 110 países diferentes. Além de eliminar os mosquitos, pesquisas para o desenvolvimento de uma vacina e medicação diretamente orientada para esse tipo de vírus são formas de controlar a doença.
Como já dito anteriormente, não é tão vantajoso para as indústrias farmacêuticas gastar em recursos e pesquisas para solucionar doenças tropicais, que atingem um público específico e de forma pontual, o que dificulta o pleno desenvolvimento da saúde pública brasileira, em que a solução aparente para os problemas deste país seria criar uma indústria farmacêutica nacional, como a recém criada Hemobrás, no que se refere à produção e manipulação de hemoderivados (o futuro da questão do sangue no país).
É imprescindível o fortalecimento das pesquisas nacionais acerca da busca pela cura de doenças tropicais, intensificando-se os investimentos privados ou do setor público, em prol do desenvolvimento de vacinas e medicamentos para sanar uma lacuna histórica e contemporânea de atraso, viabilizando uma maior consistência e integralização do Sistema Único de Saúde.
Doenças Negligenciadas. Disponível em: <http://www.abc.org.br/IMG/pdf/doc-199.pdf> Acesso em: 28 de nov. 2014.
Indústria Farmacêutica. Disponível em: <http://boaspraticasfarmaceuticas.blogspot.com.br/2009/04/doencas-negligenciadas-e-industria.html> Acesso em: 28 de nov 2014.