sábado, 1 de novembro de 2014

Mas afinal, o sangue muda de cor?

Perguntas como essa, podem ser interpretadas como ignorantes ou ainda como produto de pessoas sem senso crítico. Mas na verdade, há ainda quem reproduza a velha frase "Eu tenho sangue azul" como uma máxima relacionada aos velhos tempos da realeza ou afim a esta.

O fato é que o transporte de oxigênio dos pulmões aos tecidos é efetuado pela hemoglobina, uma proteína que está presente nas hemácias do sangue, ao passo que o CO2 produzido pelos tecidos é convertido a ácido carbônico, que se ioniza em bicarbonato e H+. O bicarbonato é então transportado aos pulmões, onde é eliminado como CO2, e os íons H+ são removidos pela hemoglobina.


Como é sabido, as trocas gasosas ocorrem nos pulmões, por meio de um processo chamado de hematose, que é quando o sangue venoso recebe oxigênio e retorna aos tecidos como sangue arterial.

Mas afinal, por que então nobres e reis se diziam de sangue azul?

Há muito tempo atrás, as pessoas se questionavam sobre o porquê do sangue periférico ser de coloração azulada, quando na verdade, era vermelho. E depois de séculos de estudo, constatou-se que havia dois tipos de sangue, diferenciados pela presença ou não do O2 associado à hemoglobina.

A proteína é formada por 4 subunidades, 2 alfa e 2 beta, tendo ainda, um grupo prostético chamado heme. O heme é uma molécula de porfirina contendo um íon de ferro, que, na mioglobina e na hemoglobina, permanece no estado ferroso, Fe 2+. A porfirina confere à hemoglobina e ao sangue, a sua cor característica.


O grupo heme está em cada uma das subunidades da proteína presente nas hemácias, e a interação do Fe 2+ com o O2 ocorre em uma cavidade hidrofóbica, por conta do anel porfirínico, possibilitando a não oxidação do ferro ao estado férrico Fe 3+. Assim, uma molécula de hemoglobina oxidada totalmente possui 4 moléculas de oxigênio, passando a ser denominada de oxihemoglobina. Sendo, portanto, a ligação do O2 ao grupo heme, determinante para a cor avermelhada do sangue, diferentemente do que afirmavam os reis e os nobres, que relacionavam a cor azulada de suas veias (sangue venoso) à cor real de seu sangue. Mal sabiam eles que possuíam a mesma cor de sangue de seus reles subordinados.

A grande questão é que o sangue pode sofrer algumas interações, inclusive medicamentosas. Pode haver ainda, mudança de viscosidade e de cor. Um exemplo dessas interações, conforme veiculado pela revista científica The Lancet, na sua edição de 9 de junho de 2007, em um artigo intitulado Dark Green Blood in the Operating Theathre (Sangue Verde-Escuro na Sala de Cirurgia) faz referência a um relato assinado por uma médica de um hospital canadense, que presenciou o fato durante uma cirurgia. O paciente tinha sangue arterial de cor verde por conta do medicamento sumatriptano, para o tratamento de enxaqueca.
O sangue verde foi causado por uma condição denominada sulfahemoglobinemia, na qual um átomo de enxofre (ao invés de oxigênio) é incorporado à hemoglobina do sangue. 
O problema é ainda maior porque o oxigênio não consegue interagir com a hemoglobina, por conta do enxofre, o que diminui a oferta de O2 para os tecidos nobres (sistema nervoso e cardiovascular). Dentre os sintomas relacionados a esta intoxicação, destacam-se a "ressaca" e problemas relacionados à atenção e à memória. Se o paciente tiver problemas cardiovasculares, o quadro evolui negativamente.
Cada vez mais comum, o uso de medicamentos anti-enxaqueca (como as sulfonamidas) tem prometido libertar das intensas dores de cabeça, milhões de pessoas com este problema, e também são considerados pivôs em potencial para pacientes em caso grave ou em crise desenvolverem quadros de overdose ou superdose. 
Mais uma vez a automedicação desponta-se como um reflexo da difusão de tratamentos medicamentosos como os "mais viáveis" ou como os que "solucionam", pondo de lado os exercícios físicos regulares, a alimentação balanceada, a mínima quantidade de horas de sono (medidas de prevenção para as crises de enxaqueca).
É necessário, portanto, que haja uma intensificação dos programas em saúde, a nível de atenção básica, acerca da reeducação dos pacientes no que se refere ao desenvolvimento de práticas saudáveis, e que podem reduzir as chances de crises. Muito mais que agentes em saúde, os profissionais desta área devem portar-se como agentes sociais, intervencionistas e combatentes dos determinismos em saúde, como o tabagismo, o alcoolismo e demais hábitos que incorrem no desenvolvimento de doenças e distúrbios que afetam o indivíduo e as pessoas a sua volta. A arte de se produzir saúde não se focaliza em curar, mas em reproduzir cuidados!

REFERÊNCIAS

FELDMAN, Alexandre. Sangue verde na sala de cirurgia. Disponível em: <http://www.enxaqueca.com.br/blog/sangue-verde-na-sala-de-cirurgia/> Acesso em: 01 de nov. 2014.
MARZZOCO, Anita; TORRES, Bayardo Baptista. Bioquímica Básica. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
VARELLA, Drauzio. Enxaqueca. Disponível em: <http://drauziovarella.com.br/letras/e/enxaqueca-2/> Acesso em: 01 de nov. 2014.

10 comentários:

  1. Interessante essa relação, o aparente sangue que corre nas veias na verdade é vermelho e possui a mesma cor para todos. Assim como o enxofre se ligou à hemoglobina formando sulfahemoglobina dificultando a ligação do oxigênio e o seu consequente transporte, existem outras substâncias que ligam-se à molécula de hemoglobina e dificultam o transporte de O2. É o caso do dióxido de carbona( CO2) que forma a carbohemoglobina e do monóxido de carbono que, após se unir à hemoglobina, da origem à carboxihemoglobina composto altamente estável, e que pode ser fatal ao ser humano.
    E pensando, se com enxofre o sangue fica verde com qual ficaria azul. A resposta provável é cobre, e até existe algo parecido com sangue azul. Muitos Artrópodos possuem um pigmento na hemolinfa chamado hemocianina que ao reagir com o O2 deixa o fluido azulado.
    Parece que os verdadeiros possuidores de sangue azul não são nascidos em berço de ouro.
    Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Hemocianina

    ResponderExcluir
  2. Interessante perceber o quanto as concepções a nível biológico mudam durante o tempo, a medida que surgem novas pesquisas. Como mostra a postagem, achava-se que o sangue era azul somente para os mais nobres. Atualmente, sabe-se que ele é vermelho e assim para todos os seres humanos, haja vista é composto, dentre outras coisas, por hemácias (também chamadas de glóbulos vermelhos). Para se ter uma noção da quantidade de hemácias que temos no sangue, um indivíduo normal tem entre 3 a 4 milhões por decilitro (1 decilitro equivale a 100 ml) de sangue. Os leucócitos (glóbulos brancos), também presentes no sangue, existem em uma quantidade muito inferior, entre 5 mil a 8 mil leucócitos por decilitro de sangue. As hemácias são constituídas de hemoglobinas, e essas hemoglobinas são responsáveis pela cor do sangue. O papel da hemoglobina é, com a ajuda do ferro, transportar o oxigênio do ar (captado pelos pulmões) para todas as células do organismo. O ferro é um elemento fundamental na coloração do sangue e o principal veículo para que o oxigênio chegue onde deve chegar. Além disso, foi muito importante mostrar os efeitos que certos medicamentos tem sobre o nosso sangue, como o sumatriptano, que deixa nosso sangue verde! Postagem muito interessante, aguardo novas postagens.

    fonte: http://www.inctsangue.net.br/educacao/44-curiosidade

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Uma pergunta de um curioso leigo:
      Se no lugar do ferro, houver um outro condutor, como por exemplo o ouro, ouro não oxida em contato com o O2. E pelo o que eu entendi nosso sangue é vermelho porque o ferro oxida correto?

      Como disse sou leigo, minha intensão não é questionar e sim aprender.

      Excluir
  3. O sangue é um fluido corporal indispensável para a homeostase do organismo por suas inúmeros funções desempenhadas que vão desde o transporte de gases, nutrientes e produtos de excreção até a regulação do pH sanguíneo, que deve ficar em torno de 7,35 - 7,45.
    O interessante, como bem retratado, é que apesar de diversas substâncias presentes no sangue, em sua maioria ele prevalece vermelho, permitindo destacar que mesmo possuindo componentes que apresentam outras cores como o plasma sanguíneo que é amarelo e possui água e substâncias sólidas como proteínas, minerais (principalmente cloreto de sódio e cálcio), seus elementos vermelhos (hemácias) prevalecem sobre os demais, destacando também sua função.

    FONTE:
    SANGUE E BIOQUÍMICA; Rafael Linden. Disponível em https://professores.faccat.br/moodle/pluginfile.php/13164/mod_resource/content/1/Bioqu%C3%ADmica%2012%20-%20sangue.pdf

    ResponderExcluir
  4. Se seu sangue é azul o meu é dourado!
    Na mitologia grega, o sangue dos deuses apresentava coloração de ouro e era constituído basicamente de néctar. Muitos outros contos mostram o misticismo que temos em relação ao sangue, como nos vampiros e no conto do Santo Graal.
    Entretanto, como mostrado no post, nosso sangue não varia muito de pessoa para pessoa, exceto quando há ingestão de medicamentos ou drogas. Grandes alterações na composição sanguínea, como na anemia falciforme, significariam dificuldades de circulação , constituindo um obstáculo à vida.
    As pessoas podem, no entanto, serem diferenciadas com base no sistema ABO e outros, o que não implica superioridade ou inferioridade.

    ResponderExcluir
  5. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  6. Realmente, houve uma época em que falar-se em “sangue azul” era comum e imprimia certo respeito. Hoje em dia, no entanto, falar algo assim, ao invés de demonstrar superioridade, mostra certa inferioridade no nível de conhecimento, por demonstrar a opinião de que existem pessoas melhores apenas por descenderem de uma família mais abastada. É mostrado no texto que não existe diferenciação de cor no sangue. Em casos muito raros, relacionados a ingestão de medicamentos, podem ocorrer reações adversas que causam uma diferenciação da pigmentação do mesmo, o que, no entanto, não tem relação alguma com superioridade de linhagem. A postagem também mostra a estrutura da hemoglobina, relacionando ao transporte de substâncias. Dentro desse tópico, pode-se citar a porfiria. As porfirias são um grupo de distúrbios raros transmitidos de geração em geração em que uma importante parte da hemoglobina, chamada heme, não é produzida corretamente. Normalmente, o corpo produz heme em um processo com diversas etapas. As porfirinas são produzidas em várias etapas desse processo. Os portadores de porfiria têm uma deficiência de certas enzimas necessárias para o processo. Isso causa o acúmulo de quantidades anormais de porfirina ou elementos químicos relacionados no corpo. As porfirias causam sintomas como a Sensibilidade à luz, causando erupções, bolhas e cicatrização da pele (fotodermatite), entre outros. Alguns dos medicamentos usados para tratar um ataque súbito (agudo) de porfiria podem incluir hematina aplicada por via intravenosa, analgésicos, entre outros.

    Fonte: http://www.minhavida.com.br/saude/temas/porfiria

    ResponderExcluir
  7. As manifestações da aparência sanguínea se devem a fatos diversos, nos casos mais simples o uso de medicamentos é mais comum, como foi citado no texto. Relacionando essas manifestações com a automedicação, observa-se a usualidade de substâncias para o controle da enxaqueca. Muitos mitos cercam a enxaqueca. O maior deles é que não existe tratamento para o problema, que se deve aprender a conviver com ela. Outro é que enxaqueca se trata com analgésicos, ou seja, sintomáticos, somente no momento das crises. Esse é um mito ainda mais perigoso, pois geralmente leva a automedicação e ao uso excessivo de analgésicos, que tornam na verdade a cefaleia ainda mais frequente. Antes de tudo, a pessoa com enxaqueca deve observar atentamente possíveis situações que ajudam a provocar a dor, os gatilhos para que as crises ou sintomas aconteçam. Medidas não medicamentosas, como prática regular de exercícios físicos, técnicas de relaxamento, meditação, acupuntura e auxílio psicológico também podem contribuir para a redução de suas crises. E estudos mostram que, se combinados com o tratamento medicamentoso preventivo, o resultado pode ser ainda melhor.
    Fonte: http://www.minhavida.com.br/saude/materias/16741-enxaqueca-uso-correto-da-medicacao-pode-prevenir-novas-crises

    ResponderExcluir
  8. Buscamos tantos meios de nos diferenciarmos dos outros indivíduos, seja por meio de posses ou por alterações físicas. Porém, o sangue que circula em nossas veias é vermelho da mesma cor.
    A hemoglobina, substancia responsável pelo transporte de oxigênio e de gás carbônico, é de fundamental importância, já que o seu correto funcionamento garante a oxigenação dos tecidos do corpo.
    A anemia por deficiência de ferro, ou anemia ferropriva, é a mais comum de todas as anemias. Ela pode instalar-se por carência nutricional, parasitoses intestinais, ou durante a gravidez, o parto e a amamentação. Pode também ocorrer por perdas expressivas de sangue, em virtude de hemorragias agudas ou crônicas por via gastrintestinal ou como conseqüência de menstruações abundantes.
    Os alimentos constituem as principais fontes de ferro e podem oferecer dois tipos diferentes desse nutriente: o ferro heme e o ferro não-heme. O primeiro, encontrado especialmente na carne vermelha e no fígado de todos os animais, assim como na carne das aves, peixes e nos ovos, é melhor aproveitado pelo organismo. A absorção do ferro não-heme, existente nas verduras de folhas escuras (espinafre, brócolis, couve, salsa, etc.), leguminosas (feijão, lentilhas, grão-de-bico, ervilhas, etc.); frutas (uvas, maçãs, nozes, amêndoas, castanhas, etc.) é menor e menos eficiente.
    Esse tipo de anemia é bastante comum, independentemente do estrato socioeconômico do indivíduo. Deve-se atentar, portanto, pois causa palidez, cansaço, falta de apetite, apatia, palpitações e taquicardia. Nos estágios mais avançados da doença, ocorrem alterações na pele e nas mucosas (atrofia das papilas da língua e fissuras nos cantos da boca), nas unhas e nos cabelos, que se tornam frágeis e quebradiços.E em crianças, a anemia ferropriva pode afetar o crescimento, a aprendizagem, e aumentar a predisposição a infecções.
    Fonte: http://drauziovarella.com.br/envelhecimento/anemia-ferropriva/

    ResponderExcluir
  9. Boa tarde, eu tenho uns breve pergunta, se eu pegar uns pequena amostra de sangue e misturar com sulfato de cobre ou enxofre, a tonalidade do sangue irá mudar?

    ResponderExcluir