Ehrlich, um renomado cientista, ao aplicar corante vital na circulação arterial e venosa observou que, com exceção do sistema nervoso central, todos os tecidos do corpo haviam adquirido a coloração do corante injetado. Surgiu então a hipótese, posteriormente confirmada por Resse e Karnovsky, de que a medula espinhal e o restante do sistema nervoso central possuíam uma barreira contra certas substâncias. Reese e Karnovsky comprovaram, ao analisarem a estrutura dos capilares do SNC, que as células endoteliais que os compõe não possuem fenestrações (aberturas - como os vasos dos rins), que permitam uma passagem pouco específica de diversos compostos, comprovando então a proteção extra do SNC.
Assim, é possível dizer que a túnica íntima dos vasos possui um reforço endotelial (barreira hematoencefálica), que seleciona a passagem de partículas ou moléculas pequenas através de receptores de membrana presentes nestes vasos. A administração, pois, de drogas no sistema nervoso central tem sido um dos maiores questionamentos da comunidade científica, sobretudo no que se refere ao procedimento e eficácia de tais medicações, como no combate ao Alzheimer e ao Mal de Parkinson, ambas doenças neurodegenerativas.
No caso do Alzheimer, a doença progride com a perda de memória, linguagem, razão e a habilidade de cuidar de si próprio, sem causa definida, mas costumeiramente relacionada à herança genética. Atualmente, a doença não tem cura. Enquanto que o Mal de Parkinson é relacionado à perturbação quantitativa da concentração de dopamina na substância negra do mesencéfalo, segmento do tronco encefálico, e portanto, parte do sistema nervoso central. A doença tem uma progressão negativa, com perda do controle da movimentação dos músculos estriados esqueléticos, evoluindo com a disfunção funcional orgânica, como o ato de deglutir.
Dessa forma, ano após ano, cientistas de todo o mundo têm discutido acerca de tais doenças, principalmente pelo fato de que as mesmas se desenvolvem após os 50 anos, em média. E como consequência de um mundo globalizado e com melhoria dos índices de desenvolvimento humano, tem-se o crescimento do ápice das pirâmides populacionais, ou seja, a expectativa mundial tem crescido gradualmente, e com esta, as doenças relacionadas a esta faixa etária, levando-se em conta fatores genéticos e ambientais.
E como já falado, a administração oral, venosa ou liquórica de medicamentos experimentais têm fracassado em diversos casos, sobretudo no que se refere às doenças supracitadas, uma vez que se tratam de quadros de degeneração nervosa central, em que o tecido nervoso está protegido por um epitélio especial, que passa a ser denominado como uma barreira hematoencefálica.
No entanto, e graças à engenharia biomolecular, a mortalidade relacionada a doenças ou tumores no sistema nervoso central está em cheque. Um grupo de cientistas recentemente desenvolveu de forma satisfatória um experimento com ratos, no qual consistia o desenvolvimento de microbolhas de gás natural, funcionalmente capazes de conter partículas hidrossolúveis (lembrando que a membrana celular é lipossolúvel) ou moléculas microscopicamente grandes e inespecíficas aos receptores da membrana endotelial, que são justamente as drogas a serem administradas, guiadas por ultrassom focalizado de alta intensidade (HIFU), o que permitiu, por meio mecânico vibracional, a perda momentânea de seletividade da membrana (cerca de 4h). Segundo os estudiosos, o procedimento não é invasivo, e pode ser repetido várias vezes, o que portanto, poderia ser um sucesso em humanos (a próxima etapa da pesquisa).
Promissor, o estudo mostra-se como a alternativa mais próxima da cura total de distúrbios neurodegenerativos, até então sem cura. No caso do câncer, o procedimento é um pouco diferente. Existem quimioterápicos que agem de forma positiva no combate a diversos tipos de câncer, mas que por outro lado, agem destruindo além das células cancerosas, células biologicamente estáveis, o que desencadeia uma série de sintomas já conhecidos e tão propagados, como o vômito, náuseas, dores e a perda de cabelo. O que poderia mudar, caso a pequisa das microbolhas fosse aprovada e implementada como procedimento padrão para o tratamento destas doenças.
Promissor, o estudo mostra-se como a alternativa mais próxima da cura total de distúrbios neurodegenerativos, até então sem cura. No caso do câncer, o procedimento é um pouco diferente. Existem quimioterápicos que agem de forma positiva no combate a diversos tipos de câncer, mas que por outro lado, agem destruindo além das células cancerosas, células biologicamente estáveis, o que desencadeia uma série de sintomas já conhecidos e tão propagados, como o vômito, náuseas, dores e a perda de cabelo. O que poderia mudar, caso a pequisa das microbolhas fosse aprovada e implementada como procedimento padrão para o tratamento destas doenças.
O foco de atenção às faixas etárias de maior idade, seja no estrato social, econômico ou ainda, no que se refere à saúde das populações, ainda é insuficiente. É imprescindível que saibamos cuidar da nossa terceira idade, promovendo saúde e propiciando um bem-estar biopsicossocial àqueles que outrora "lutaram" para garantir a sustentabilidade das gerações contemporâneas. Doenças que eram desconhecidas e desinteressantes em termos de lucro para a sociedade e indústria médico-farmacêuticas, tornam-se alvo de seus estudos, uma vez que a saúde tem sido invertida a simples moeda de troca, e o pleno bem-estar torna-se cada vez mais caro e inacessível. Contrariando, inclusive, o artigo quinto da CF, no que se refere ao direito à saúde. E sendo saúde um bem-estar biopsicossocial, é evidente que nem todos têm esta tal saúde, ou a mesma é tida como de rico ou de pobre, de quem tem e quem não tem, de quem manda e quem não pode mandar!
REFERÊNCIAS:
CHARBONEAU, J. William. Tratado de Ultra-Sonografia Diagnóstica (ebook). Disponível em: <http://books.google.com.br/books?id=asl9BjlNQHUC&pg=RA5-PT36&lpg=RA5-PT36&dq=bolhas+barreira+hematoencef%C3%A1lica&source=bl&ots=JERhBBkCHp&sig=JjBxE_9BFt1Z3zk0bytVfurVsfg&hl=pt-BR&sa=X&ei=qxJDVOrMBdDHgwTinIKwCg&ved=0CCcQ6AEwAQ#v=onepage&q=bolhas%20barreira%20hematoencef%C3%A1lica&f=false> Acesso em: 18 de out. 2014.
Scientific American Mente Cérebro. As bolhas que combatem Alzheimer, Parkinson e Câncer. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/as_bolhas_que_combatem_alzheimer_parkinson_e_cancer.html> Acesso em: 18 de out. 2014.
Belíssimo texto, relata bem a situação de ineficiência dos programas sociais de atenção à saúde do idoso, dessa forma, pesquisas relacionadas às doenças típicas da velhice como Alzheimer e Parkinson chegam a competir com pesquisas ligada à beleza e à virilidade humana. A alta seletividade da barreira hematoencefálica, fundamental para a proteção do SNC, pode se apresentar como um problema para a terapia de doenças neurodegenerativas como foi citado. A terapia das microbolhas de gás natural que atuam como transportadores de substancias para o SNC poderia sim ser uma alternativa em humanos, mas como foi citado, o tratamento oferece à membrana da barreira heatoencefálica uma perda momentânea de seletividade por cerca 4 horas. É preciso avançar nas pesquisas e descobrir quais seriam os riscos dessa terapia, pois, por mais que se trate de um procedimento não invasivo, fala-se em diminuição de seletividade membranácea e isso pode contribuir para a passagem de outras substâncias tóxicas ou não.
ResponderExcluirA barreire hematoencefálica tem um comportamento intrigante regulando a troca de substâncias entre o sangue e o sistema nervoso por meio de uma permeabilidade restrita do endotélio. A composição dela ultrapassa as simples células endoteliais, é também constituída por: ocludinas e claudinas, proteínas transmembranas que ajudam na resistência elétrica e seletividade de íons; astrócitos; células cerebrais contráteis chamadas pericitos que ajudam a regular o fluxo sanguíneo; além da matriz extracelular.
ResponderExcluirContudo, a barreira hematoencefálica (BHE), impede tanto a entrada de antígenos, quanto a entrada de medicamentos para doenças do SNC, tais como Parkinson e Alzheimer. Tais medicamentos são, geralmente hidrossolúveis, não passando pela BHE. Uma alternativa seria o tratamento supracitado com microbolhas que contém o medicamento e que conseguem penetrar às membranas das células endoteliais auxiliadas por ondas de ultrassom.
Fonte auxiliar:
Hugo Rojas, Cristiane Ritter, Felipe Dal Pizzol; Mecanismos de disfunção da barreira hematoencefálica no paciente criticamente enfermo:
ênfase no papel das metaloproteinases de matriz, diponível em:
http://www.scielo.br/pdf/rbti/v23n2/a16v23n2
Muito interessante tratar sobre esse tema, pois, como foi dito, a barreira hematoencefálica tem muitos benefícios mas também muitos prejuízos. Por ter uma alta seletividade, ela impede que certos medicamentos necessários para tratar doenças neurodegenerativas, como o Mal de Parkinson e o Alzheimer, entre no sistema nervoso central (SNC) e também diversos tipos de antígenos.necessários para combater diversas doenças. Para resolver tal problema, vem sendo testado o uso de microbolhas de gás natural que são funcionalmente capazes de conter partículas hidrossolúveis, no caso os medicamentos, visto que a barreira hematoencefálica é lipossolúvel e por isso n permite a passagem desses remédios. É muito importante o avanço nessas pesquisas, pois podem servir de tratamento para diversas doenças. No entanto, como foi exposto no texto, essas microbolhas podem eliminar a capacidade seletiva da barreira em até 4 horas, podendo assim entrar substâncias indesejáveis no SNC e causar outros danos. Espero novas postagens!
ResponderExcluirAtualmente, ministra-se o uso de agentes osmóticos, como o manitol, para que medicamentos penetrem a barreira hematoencefálica. Esses agentes retiram água das células da barreira, aumentando as aberturas entre elas, o que, entretanto, também permite a entrada de outras substâncias nocivas. Na nova técnica de microbolhas, uma menor área da barreira é afetada.
ResponderExcluirA proteção da barreira também não é total. Tanto drogas psicoativas como psicotrópicas, como o álcool e LSD, podem atravessá-la e chegarem ao SNC, causando as conhecidas alterações.
Ótimo post e ótima crítica. Um maior compromisso é necessário com essa área.
FONTE
http://www.isaude.net/pt-BR/noticia/26132/ciencia-e-tecnologia/tecnica-utiliza-ressonancia-magnetica-para-melhorar-entrega-de-drogas-no-cerebro
Parabéns pela publicação. Sem dúvidas, é um tema de extrema relevância!
ResponderExcluirA barreira hematoencefálica é uma estrutura essencial para o organismo humano e conforme supracitado, apresenta uma seletividade muito específica, permitindo a passagem de poucas substâncias, em especial, substância lipossolúveis. Mas nem sempre isso, é uma fator benéfico, principalmente no que concerne à bioimpedância que está barreira oferece à absorção de fármacos ou substâncias benéficas.
Conforme pesquisa da Luciana Le Sueur Maluf, através do Instituto de Saúde e Sociedade (ISS). Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), tentou-se estabelecer relação entre as crises epilépticas do lobo temporal (ELT) e a integridade da barreira hemato-encefálica (BHE), pois a ELT está relacionada à resistência ao tratamento medicamentoso, ou refratariedade, em adultos, que preliminarmente foi observado um aumento da permeabilidade da BHE para macromoléculas no córtex entorrinal de ratos após 30 min de status epilepticus induzido por pilocarpina. [A pilocarpina é um alcalóide natural, parassimpatomimético com ação colinérgica direta sobre os receptores neuro-muscarínicos e musculatura lisa da íris e glândulas de secreção.]
Assim, é indispensável o fomento e incentivo à pesquisa para que novas informações seja coletadas e distribuídas no meio cientifico, para uma melhor compreendermos a fisiologia do BHE, tal como a fisiopatologia e terapêutica de doenças neurodegenerativas, proporcionando um o desenvolvimento da neurociência.
REFERÊNCIAS:
http://www.bv.fapesp.br/pt/auxilios/28572/permeabilidade-da-barreira-hemato-encefalica-no-modelo-de-epilepsia-induzido-pela-pilocarpina-em-rat/
http://www.medicinanet.com.br/bula/4097/pilocarpina.htm
Além da Barreira Hematoencefálica (BHE), que fica entre o cérebro e os vasos sanguíneos, existem outras duas barreiras que protegem o Sistema Nervoso Central: a barreira entre sangue e líquido cefalorraquidiano (BSLCR), formada pelo plexo corióide e a membrana aracnóide com os vasos sanguíneos e o líquido cafalorraquidiano; e a barreira entre sangue e aracnóide (BSA), que é a interface dos vasos sanguíneos com a camada do epitélio da aracnóide subjacente a dúra-mater das meninges.
ResponderExcluirAlgumas barreiras são mais seletivas que outras, ou são mais específicas a certos elementos. Sendo assim, talvez durante o procedimento com utilização de microbolhas, apesar da BHE ficar momentaneamente enfraquecida para a penetração dos medicamentos , as demais barreiras podem continuar sua função barrando microorganismos nocivos. Porém, para garantir tal hipótese é necessário que mais testes sejam realizados. Esse é, portanto, um assunto que deve ser foco da atividade científica, já que engloba doenças tão comuns e tão problemáticas na atualidade, como Alzheimer e Parkinson.
Fonte: http://www.scielo.br/pdf/rbti/v23n2/a16v23n2
A barreira hematoencefálica é formada por células endoteliais que ficam alinhadas com os capilares, impedindo ou dificultando a passagem de substâncias do sangue para o tecido nervoso. Ela é muito importante pois é extremamente necessária, já que protege o sistema nervoso central de potenciais invasores, como vírus, bactérias e outros patógenos, que em geral não conseguem atravessar essa barreira. Entretanto, ela também impede a passagem de substâncias que seriam benéficas ao SNC, como medicamentos contra as doenças neuro-degenerativas citadas, Mal de Alzheimer e Mal de Parkinson. No Mal de Alzheimer, os doentes apresentam cérebros atrofiados de forma difusa, mas não uniforme; as áreas mais atrofiadas são principalmente as que coordenam atividades intelectuais. Ao microscópio notam-se perda de neurônios e degeneração das sinapses. Duas alterações patológicas dominam o quadro: as placas senis e os emaranhados neurofibrilares. Placas senis são formadas pelo depósito de uma proteína (beta-amilóide), no espaço existente entre os neurônios. Já, os emanharados neurofibrilares são formados por uma proteína (tau) que se deposita no interior dos neurônios. As alterações cerebrais precedem as manifestações clínicas por 20 a 40 anos. No Mal de Parkinson, como dito no texto, tem a degeneração da substância negra, presente no mesencéfalo, onde decai a quantidade de dopamina. Se faltar dopamina, a motricidade automática é interrompida e a pessoa tem grande dificuldade para realizar movimentos simultâneos. Não consegue andar e conversar ao mesmo tempo nem realizar um movimento com a mão direita e outro com a esquerda. Perdidos esses automatismos, para andar precisa pensar isoladamente em cada passo e, enquanto ocupa o cérebro com isso, não consegue fazer mais nada. Portanto, se o procedimento das microbolhas realmente funcionar, haverá grande melhora da saúde de milhões de pessoas pelo mundo.
ResponderExcluirReferências:
http://drauziovarella.com.br/clinica-geral/doenca-de-parkinson-2/
http://drauziovarella.com.br/envelhecimento/doenca-de-alzheimer/
http://201.20.109.36:2627/index.php/medicina/article/view/38
É incrível como a ciência avança a passos largos, o método apresentado, se aprovado será um marco no combate a doenças do sistema nervoso, e quem sabe o passo inicial para a cura menos invasiva de neoplasias, doenças auto degenerativas do SNC são de dificílimo tratamento por conta da barreira hematoencefálica, e os medicamentos tem efeito paliativo, amenizando os danos, e dando uma sobrevida maior aos portadores de tal síndrome, é ótimo ler notícias como essa, afinal todos estamos sujeitos a essas doenças e a possibilidade de cura é tranquilizadora. Nesse relato pertinente sobre a intervenção medicamentosa em doenças do sistema nervoso, recordei de um fato interessante, que tive contato por meio do filme “Awakenings” (Tempo de despertar/pt), que expõem um caso bastante interessante sobre como o tratamento químico pode ser utilizado como arma na cura de tais patologias do SNC, ele narra a chegada do jovem neurocientista a um hospital psiquiátrico em Nova York (EUA) na década de 60, onde encontra pacientes atípicos e catatônicos que seguem um padrão quanto a seus atos, pesquisando a fundo, ele descobre que foram vítimas de uma doença conhecida por encefalite letárgica, a qual se espalhou em epidemia nos EUA e Europa, na década de 20 e 30, e que tinha e tem até hoje origem e tratamento desconhecidos, a doença age de forma semelhante ao mal de Parkinson com inflamação da substancia negra e provoca letargia, sonolência e tremores, tendo isso em vista ele iniciou um tratamento com uma droga experimental L-DOPA, que surtiu efeitos imediatos e todos os pacientes submetidos ao tratamento, e pessoas que viviam há 30 anos em cadeiras de rodas, voltaram a andar, dançar e agirem normalmente, isso foi considerado um milagre cientifico e pouco tempo depois a droga já não surtia o mesmo efeito o que fez com que os pacientes retornassem ao seu estado anterior. Há uma possibilidade de que a barreira hematoencefalica tenha inibido aos poucos a entrada do princípio ativo da L-DOPA, e assim fazendo que o tratamento não tivesse um efeito continuo, por isso pesquisas como essa podem auxiliar na cura de várias doenças degenerativas.
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