terça-feira, 30 de setembro de 2014

Aristóteles, Automedicação e a Bioquímica no Sangue

     Ocorrem no sangue diversos processos metabólicos de fundamental importância para a homeostase dos indivíduos, e que serão abordados em postagens futuras, como o controle da glicose e dos lipídeos, por exemplo. Portanto, o blog irá tratar de temas variados, relacionados à bioquímica do sangue, mas dosados com o pragmatismo das relações contemporâneas.
          Como se é sabido, o sangue é um líquido que percorre por todo o corpo por meio de vasos, de maior ou menor calibre, como as artérias e veias, representando 7% do peso corporal de uma pessoa saudável. É composto por glóbulos sanguíneos (eritrócitos ou hemácias, plaquetas e leucócitos ou glóbulos brancos) e pelo plasma. Sendo sua principal função o transporte destas células, seja para a oxigenação dos tecidos, coagulação do sangue, ou ainda para a defesa do organismo, além de transportar substâncias como os hormônios, drogas e metabólitos (JUNQUEIRA, 2013).

"Quem nunca foi à farmácia comprar um analgésico após aquela 'dorzinha de cabeça', que atire a primeira pedra!"
      A primeira postagem faz referência ao uso indiscriminado dos medicamentos à base de paracetamol, como o conhecido tylenol. O fato é que os analgésicos de acetaminofeno caíram no "gostinho popular", e cada vez mais pessoas se automedicam com tais drogas, negligenciando o uso da bula e aumentando as estatísticas de intoxicação, seja por falta de informação ou pelo comodismo de cessar as conhecidas cefaleias ou dores musculares (o que pode ser um perigo! Principalmente porque estes sinais podem ser reflexos da manifestação de doenças mais sérias).
         O paracetamol, após absorção, entra na corrente sanguínea, e atua por inibição da cascata do ácido araquidônico, impedindo a síntese de prostaglandinas, mediadores celulares pró-inflamatórios, responsáveis por várias manifestações da inflamação, como a dor.
         Assim, parte do acetaminofeno que foi levado pelo sangue para ser metabolizado no fígado, sofre uma N-hidroxilação mediada pelo citocromo P450 para formar N-acetil-benzoquinonaimina, um intermediário altamente reativo e que normalmente reage com grupos sulfidrila de glutaniona (GSH), tornando-se inofensivo no fígado (WATKINS, 2012).


        No entanto, em altas doses, o metabólito é capaz de realizar a depleção da glutaniona, originando um quadro de hepatotoxicidade, ao ingerir-se, por exemplo, mais de 4g do medicamento ao dia.
              Não obstante, o sangue e seus metabólitos passam por uma filtração nos rins, o que pode complicar o quadro de um paciente com overdose medicamentosa, uma vez que a nefrotoxicidade, ou toxicidade dos néfrons (unidades funcionais dos rins), caracteriza-se pela necrose do túbulo coletor, propiciando uma maior excreção de água, além de sódio, potássio, glicose e proteínas.
        
  Mas afinal, de onde vem a automedicação? Por que as pessoas não leem a bula?
            Muito provavelmente, o médico seja o responsável por essa inversão de valores. Sobretudo, no que se refere à relação médico-paciente, na qual muitos brasileiros foram "acostumados" a relacionar a ida ao médico com a prescrição imediata de medicamentos. Quando na verdade, muitos desses medicamentos poderiam ser substituídos por práticas físicas, uso de fitoterápicos, ou simplesmente, nada. 
              Isso! Há pacientes que sentem a necessidade de simplesmente irem ao médico. E em meio a toda essa complexidade humana, pontua-se a maior falha desse feedback: a própria formação médica no país. Fazendo-se necessária uma reavaliação do aproveitamento biopsicossocial nos seus 6 anos de formação básica, bem como a introdução prévia do futuro profissional em meios de convivência, para o desenvolvimento de sua percepção humana, para que se possa aprender a dizer para o seu paciente como utilizar o medicamento, os riscos das altas dosagens, bem como instruindo-o a ler a bula do medicamento. Ocultação de informação e instrução é negligência!

     
               E parafraseando Aristóteles, a diferença entre o remédio e o veneno é a própria dose!

REFERÊNCIAS

JUNQUEIRA, L.C.; CARNEIRO, José. Histologia Básica. 12 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.
KLAASSEN, C.D.; WATKINS III, J.B. Fundamentos em Toxicologia. 2 ed. São Paulo: Artmed, 2012.
LOPES, Juliana; MATHEUS, Maria Eline. Risco de hepatotoxicidade do paracetamol. Disponível em: < http://www.rbfarma.org.br/files/rbf-2012-93-4-3.pdf > Acesso em: 30 de set. 2014.


10 comentários:

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  2. O medicamento seja por via oral ,após ser absorvido, seja por injeções, seja por aplicações intravenosas, acabam apor cair na corrente sanguínea, daí ele viaja até chegar no local alvo. No caso da postagem, a droga paracetamol age impedindo a síntese de prostaglandina, o que trará uma sensação de alívio da dor. Contudo, o post trata do mau hábito que as pessoas têm de se auto-medicar o das complicações que isso pode trazer, como a sobrecarga dos rins ao filtrar o excesso de droga que vem pelo sangue. Mas não apenas isso, a automedicação pode criar dependências, alergias, e, no caso de antibióticos, pode selecionar bactérias resistentes. Muito interessante o blog como um todo e o assunto que você escolheu como primeiro tópico.

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  3. A negligência em relação ao uso da bula presente nos medicamentos é uma prática bastante comum na sociedade contemporânea e isso se deve a inúmeros fatores. Se considerarmos apenas a falta de informação citada no texto, é preciso reconhecer que nosso país ainda não atingiu a maturidade educacional suficiente para superar problemas desta natureza. Enquanto houver apenas programas superficiais na tentativa de suprimir a prática da automedicação, os problemas persistirão. Entende-se então que na falta de políticas educacionais consistentes, as equipes de saúde devem atuar excessivamente na conscientização sobre o uso correto de medicamentos pela população.

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  4. Muito interessante o tema da postagem, pois fala de um sério problema atual: a automedicação. Esta que, muitas vezes é usada como uma solução para o alívio imediato de alguns sintomas, pode trazer consequências mais graves do que se imagina. Dentre essas podemos citar: reações alérgicas, dependência e, no que se refere à antibióticos, facilitar o aumento da resistência de microorganismos, comprometendo a eficácia dos tratamentos. Nesse post em especial foi ressaltado o uso da droga paracetamol, que age impedindo a síntese de prostaglandina, proporcionando uma sensação de alívio da dor, mas que usada abusivamente pode causar hepatotoxicidade. Outro assunto que também é importante ressaltar é o perigo da automedicação com anti-inflamatórios não esteroidais (AINES), medicações muitas vezes utilizadas com o mesmo propósito do paracetamol e que por mecanismos de perda da proteção da mucosa gástrica representam, hoje, a principal causa medicamentosa do surgimento de úlceras pépticas. Sugiro que você também aborde sobre como solucionar este problema que atinge a uma grande parcela da população, bem como os antídotos que existem para certos medicamentos, como a n-acetilcisteína usada para as intoxicações por paracetamol-orientada por um médico. Aguardo novas postagens!

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  5. Adorei a postagem e o design do blog!!
    Como vimos em sala, o sangue é realmente o grande "fofoqueiro" do nosso corpo, sendo responsável pelo transporte de células, de substâncias que nos são vitais, e também dos medicamentos que ingerimos. De fato, o uso desregrado de medicamentos é uma questão preocupante. Já parou para observar que as farmácias hoje em dia se assemelham bastante com supermercados? O uso de certas drogas, como o paracetamol, se tornou tão comum que o medicamento se encontra, muitas vezes, próximo ao caixa ao lado de chicletes e balinhas, como se o consumo se desse da mesma forma, ou seja, na hora que dá vontade!
    Além disso, por desconhecimento da bula ocorre, consequentemente, o desconhecimento dos efeitos colaterais da droga. Isso pode ocasionar uma "ingestão de medicamentos em cadeia", principalmente em pessoas que se automedicam, já que após tomar o remédio X tomo o remédio Y pra anular um efeito colateral de X, depois um remédio Z pra anular o efeito colateral de Y e assim por diante.
    Senso crítico e instrução é fundamental para mudar essa realidade!
    Aguardo ansiosamente novas postagens!!! :D

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  7. A automedicação é muitas vezes vista como algo banal, apesar de ser conhecido que os medicamentos apresentam efeitos colaterais e podem não ser necessários. Analgésico, por exemplo, são consumidos abusivamente. A postagem foi muito útil ao explicar os efeitos do paracetamol e relacionar o uso excessivo de remédios a fatores culturais. É necessário que o usuário procure manter-se informado e seja informado.

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  8. Interessante a introdução ao sangue, falando sucintamente sobre sua importância e funções. Mais interessante ainda foi o tema escolhido para essa primeira postagem, a ingestão excessiva e desnecessária de medicamentos analgésicos à base de paracetamol. Este é realmente um problema bem atual, pois cada vez mais as pessoas se sentem compelidas a utilizar esses remédios, não se dando conta de que podem estar fazendo mal a seu próprio organismo. Como mencionado no texto, pode-se direcionar uma causa para este problema à excessiva prescrição de medicamentos por parte dos médicos, mas este não é o único fator responsável pelo mesmo. Devemos também atentar para a influência da indústria farmacêutica nesse âmbito, pois todos os dias somos bombardeados na TV com propagandas que incentivam o uso de remédios sem prescrição médica, em especial os analgésicos. Mesmo com a rápida mensagem no final “Ao persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado” (que é apenas uma obrigação de acordo com o ministério da saúde), incentiva-se as pessoas a ingerirem remédio sem avaliação médica a respeito da real necessidade do mesmo. Além do risco de mascarar sintomas, como mencionado na postagem, é possível que o organismo se acostume com a ingestão cotidiana desses remédios e estes não façam mais efeito quando a utilização dos mesmos for realmente necessária. Por fim, espero mais postagens de grande utilidade com esta!

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  9. O sangue é o principal meio de transporte de infinitas partículas que devem chegar aos mais diversos destinos originadas de diferentes partes do corpo. Apesar de bastante especializado em transportar substâncias, o uso indiscriminado de medicamentos, pode acarretar problemas sérios, conforme supracitados.
    Sobretudo, a automedicação é uma questão sociocultural muito forte, no aspecto que de um lado, temos o paciente fragilizado por um sistema ineficiente que possui enormes filas com longos prazos de espera, e de outro uma indústria farmacêutica que induz que a solução para todos os problemas é algo medicamentoso, produzindo no indivíduo uma desacreditação no sistema de saúde, levando-o a não procurar a assistência para problemas que ele acredita ser mais simples, e tomar algo teoricamente simples para sanar o problema, porque há a necessidade implantada de cura através de medicamentos.
    O grande perigo reside nessa relação, em que o paciente pode estar tentando tratar algo simples e por outro lado aumentando e descompensando taxas essenciais ao organismo, sobrecarregando órgãos e sistemas, aumentando a resistência bactericida dentre outras complicações.
    Cabe ao profissional de saúde, desenvolver uma relação compatível com as demandas pertinentes.

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  10. Parabéns Bruno, ótima postagem!
    O tema do blog permite uma gama enorme de assuntos, pois o sangue é o responsável por abastecer o corpo, carregando partículas e gazes necessário para manter o corpo funcionando de maneira normal, ou seja, é o grande responsável pela logística corpórea, e assim também transporta toda sorte de substâncias absorvidas pelo organismo.Você tocou em um assunto de grande interesse, a ingestão de medicamentos sem a prescrição médica a auto-medicação, e isso pode levar a mais diversa sorte de acontecimentos, como intoxicação, overdose medicamentosa, aumento de resistência de vírus e bactérias, fora outras consequências desastrosa. Como já citado, a facilidade em adquirir certos medicamentos de uso oral como o paracetamol, diclofenac e omeprazol, levam a população a conseguir o medicamento sem o consentimento médico, aliás no Brasil, possuímos a cultura de além de nos auto medicarmos, ainda indicamos medicamentos, ou seja uma mania pela medicina, pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para Farmacêuticos (ICTQ) revelou um dado alarmante: 76,4% da população brasileira fazem uso de medicamentos a partir da indicação de familiares, amigos, colegas e vizinhos. São pessoas que declaram consumir qualquer tipo de medicamento em um momento de necessidade. O estudo foi realizado em 12 capitais brasileiras e um dos dados que mais assustam foram colhidos em Salvador (BA) e Recife (PE) em que 96% da população afirma se auto-medicar. Uma das consequências disso é a intoxicação que por ano tem número estimado em 60 mil segundo o Ministério da Saúde. Então existe realmente um problema de saúde pública enorme relacionado a isso, muito bem abordado na postagem.
    Aguardo novas postagens!

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